O que vem por aí?


Sempre ouvi desde criança: "parece que o mundo está girando mais rápido". E está mesmo, a Lua está se afastando da Terra lentamente, 3,78 centímetros por ano, segundo a NASA, e isso faz com que a velocidade da rotação acelere cada vez mais em virtude da influência que Lua exerce sobre às águas da Terra. Mas essa sensação não vem desse fato. O mundo está nos bombardeando sempre com muitas informações, muitas opções, muitas experiências e muitas necessidades novas ou velhas a serem atendidas!

Toda a energia física e mental do ser humano era despendida apenas para se manter vivo e se enquadrar nos padrões da época de cada sociedade, sendo que esses padrões não nos exigiam mais do que, a grosso modo, exemplificadamente, "casar, ter filhos e ir para missa todos os domingos". Atualmente, todas as relações interhumanas mudaram. Para iniciar, o conceito de família que possuía um padrão só (por exemplo: pai, mais velho e provedor, mãe, mais jovem e do lar, e filhos obedientes à hierarquia patriarcal familiar que aos 18 anos saiam de casa, trabalhando, se fossem homens, ou casando, se mulheres) mudou. Hoje ela é formada por casais hetero e homossexuais, com filhos adotivos ou não, germinados por fertilização em vidro ou não, enfim, há uma gama mais variada inclusa e aceita na sociedade que assevera o quanto o séc. XXI nos é paradigmamente extremamente novo. Concordam que isso vai ao encontro da complexidade inata do ser humano? 

Não há dúvidas! A sociedade atual abraça todas as diferenças, por mais que ainda tragam muitos conflitos (muitos mesmos), mas as formas de pensar e interargir uns com os outros são mais complexas, o fluxo e a velocidade na troca de informações tornaram a influência das agistações humanas meteóricas. Ainda assim, muitos insistem em pensar igual ao que pensavam antes, pois há um certo comodismo do cérebro para nos mantermos em funções mais econômicas de energia mental, um mecanismo de sobrevivência programado milenarmente e que garante à raça se manter viva por todos esses anos, inclusive, como a espécie predominante do planeta. O que mudou então, se há, por tendência, sempre uma certa acomodação programada instinvamente?

Tudo! As facilidades que a tecnologia hoje nos oferecem são fruto da busca desenfreada por "economia mental". Isso quer dizer que, como pensar dá trabalho, o ser humano criou algo para pensar por ele, mais rápido e melhor: a inteligência artificial, tratada embrionariamente no computador, uma máquina criada para a realização de cálculos precisos e complexos... O fatídico resultado é que o ser humano criou tão bem a solução para "cérebros acomodados" que a inteligência artificial, no quesito inteligência/razão irá superar o seu criador em poucos anos, numa velocidade mais acelerada do que a sensação de "dias mais curtos" que eu ouvia os adultos falarem quando eu era criança.

Nesse impasse, qualquer padrão  que esteja acostumado e/ou acomodado será, em breve, como "gaiola" que promove ao pássaro a sensação de segurança do espaço habitado por ele conhecido, porque restrito; mas que deixará de existir do modo como se acostumou a perceber e conhecer ante a destruição das crenças do "passarinho", de tudo o que o sempre acreditou que é e há. Isso porque as inovações serão tantas que a própria estrutura da realidade, por exemplo, das relações trabalhistas, serão afetadas tão fortemente que o "novo" acentuará as suas dinâmicas, dizimando a realidade conhecida de apenas uma geração atrás. Assim, frente aos "cérebros acomodados", " outros cérebros" serão os agente que trabalharão, interagindo e interferindo na realidade, jamais com criatividade, jamais criando-a, mas a serviço daquele que a utilizará. Isso significa que, quem mais possuir "outros cérebros", quero dizer, os meios e/ou os recursos para ter o controle e domínio das inteligências artificiais, que já estão em tudo no dia a dia do início do séc. XXI, será o dono das "gaiolas" dos pássaros da realidade restrita, conhecida e habitada ilusoriamente. O que nos resta fazer?

Há, no entanto, algo essencial para um pássaro engaiolado: a liberdade, o vôo livre! Isso quer dizer que conhecer o espaço externo não será mais suficiente, e sim conhecer o espaço interno, o seu universo interior, o autoconhecimento: - quem você é? Há séculos esse é todo o conselho essencial para o alcance da sabedoria. Encontrava-se no pórtico de entrada do templo do deus Apolo, na cidade de Delfos na Grécia, no século IV a. C, a frase: "Conhece a ti mesmo". E no Livro "A Arte da Guerra", escrito por Sun Tzu a 500 a.C., assevera-se que só se ganha uma batalha quando o líder conhece a si mesmo, veja-se: "Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas...". Contudo o autoconhecimento é mais do que uma porta para vencer um oponente externo, mas sim para se libertar das amarras que o "cérebro preguiçoso" nos apresenta, repetindo modelos para seu condicionamento e adaptação ao mundo que observa, pois uma mente livre supera os condicionamentos e faz o cérebro/a mente avançar, evoluir.

Isso faz compreender que há algo além da mente, algo, diferente dela, que a ultrapassa, capaz de "virar a chave da gaiola" para a almejada liberdade: a consciência. Há então no ser humano um mecanismo maior do que sua própria mente, do que sua inteligência, do que a inteligência artificial que ele próprio criou e que qualquer razão, por natureza, jamais superará: a consciência. Isso porque esta engloba também o sentir, o compreender não só com a razão, mas também com a emoção já que ela é um todo, é maior, lembra-se? A consciência é a existência em si, a alma que vive a experiência limitada pela interpretação do "cérebro preguiçoso", mas jamais superada por ele! Ela conhece a verdade, ela é a verdade e está envolvendo a mente latente e à deriva na própria capacidade de pensar e de perceber a consciência toda, apenas partes dela são compreendidas e absorvidas pela mente humana gradativamente a depender da sua vontade e do seu grau de lucidez! Dessa forma, é a consciência que amplia a capacidade de pensar do ser humano, é ela que a expande e desenvolve, é ela que impera como uma grande força presente em um corpo mental ainda indisciplinado. Como afinal podemos nos aproximar mais da consciência?

Autoconhecendo-nos. Há uma sabedoria universal, registrada na Bíblia, inclusive, que diz que quem procura acha ou a quem pede será dado... A porta está aberta, resta decidir avançar por ela! Como? Olhando para dentro, conhecendo-se, percebendo-se, perguntando-se, observando-se, silenciando-se, sentindo-se constantemente! Isso porque o "cérebro preguiçoso" leva ao automatismo, é como viver por estar acostumado, sem grandes sensações relacionadas à vida em si, em todas a nuances que fazem cada dia ser diferente um do outro, porque a atenção fica viciada a perceber o que já percebeu antes e a, desse modo, experienciar mais do mesmo. Logo, prestar a atenção em cada detalhe, valorizando-o por mais simples que seja e por mais que a mente autômata queira economizar a energia do cérebro/do corpo é a sugestão para reativar a atenção, tornando-a plena. Nesse passo e avançando na atual sugestão, buscando-se economizar a energia a qual o cérebro, em sua programação milenar, tanto preserva, pois medida necessária para a sobrevivência da espécie humana, como já se sabe, a dica é direcionar a atenção apenas ao que acontece agora, único momento que realmente existe... 

Para isso, é importante saber que a mente tem dois modos funcionais, um existencial e um atuante, ambos igualmente importantes e com finalidades diferentes. O grande problema da atualidade é que, em regra, o modo atuante prepondera no dia a dia, em torno de 95% do período em vigília para cada ser humano. Isso revela que o modo existente se encontra atrofiado, o que evidencia também um grande potencial para ser desenvolvido! O modo existencial está mais ligado à consciência, pois ele é a função mental em que os pensamentos, as sensações e as emoções são percebidas, observadas e é neste exato momento que o autoconhecimento nasce. Assim, recolhendo-se dados de si mesmo, expandindo o "mapa do terrtório interno", encontram-se os recursos necessários para fazer com que a consciência prevaleça sobre a mente condicionada, o que até então, neste texto, estava-se denominando: "cérebro preguiçoso". 

A consciência é algo maior que a inteligência, do que a mente, como já se disse e é usando a mente na função existencial que se pode registrar melhor e absorver cada vez mais a luz da consciência, da vida como um todo. Em meio a isso, os sentimentos são lapidados, as crenças (programação do "cérebro preguiçoso") são aperfeiçoadas e os resultados das experiências melhoram sempre, o que os metafísicos chamam de "salto quântico". Todo esse resultado então vem de um exercício da vontade de se movimentar para preponderar sobre a resistência natural do automatismo. Desse modo, é possível, ainda que, de início, aparentemente paradoxal, usar a mente na função atuante, que é o modo em que se usa a inteligência para resolução de problemas (estímulos que impulsionam à mudança, os mais variados possíveis), para compreender todo esse mecanismo de intervenção legítima da consciênia e, em compreendendo, usar, quero dizer mais precisamente: disciplinar a vontade para alcançar o fenômeno da expansão da mente viabilizado pelo acesso à consciência . O que vem por aí afinal? 

Vem por ái uma necessidade de adaptação evolutiva tão contumaz que, como prenunciou o escritor futurista, Alvin Toffler: "o analfabeto do século XXI não será aquele que não consegue ler e escrever, mas aquele que não consegue aprender, desaprender, e reaprender". Nesse prisma, por outro lado, as experiências serão tantas e tão abundantes e tão facilmente acessadas e rapidamente devoradas que, assim como um mesmo prato todo dia saboreado pode ser enjoado, perder a graça, haverá um vazio cada vez maior e uma busca cada vez maior por prazer e prazer, já que todo o padrão atual da sociedade está voltado para os automatismos e a busca imediata por prazeres, os mais diversos possíveis. Em meio às mudanças tangíveis e gigantes em curso, mais e mais o "ser automatizado" será usado pelas inteligências artificias como mecanismos de locupletação das mentes humanas que estão ou estarão a dominar os maiores recursos, isso porque o "pássaro engaiolado" (mente condicionada) é conhecido e dominável, o "pássaro livre" (mente que quebra condicionamentos) aprende coisas diferentes, reage de modo diferente, vive de modo diferente, apresenta e cria padrões próprios, não conhecidos pela aplicação automatizada. Por isso, conheça-se e seja livre, voe!

Kênia Rios de Lima
Professora, pesquisadora, autodidada, grata e feliz ;)!

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